Neste domingo (21), está fazendo seis meses que os irmãos Joaquim e Kauãn, foram espancados, estuprados, e mortos queimados em um incêndio que ocorreu na residência do casal de pastores, que fica no centro de Linhares.
Uma manifestação popular está sendo organizado através das redes sociais para a manhã da próxima terça-feira (23). A manifestação está prevista para começar as 8:00 da manhã, em frente à casa onde ocorreu o fato e de lá os manifestantes seguirão para o Fórum Desembargador Mendes Wanderley, que fica no bairro Três Barras, onde ocorrerá a primeira audiência do caso em Linhares.
A primeira audiência para ouvir testemunhas no caso de incêndio que matou irmãos em Linhares está marcada para a próxima terça-feira (23). Serão ouvidas 15 pessoas em audiência fechada a pedido do Ministério Público Estadual (MPES). O órgão orientou sobre a manutenção do segredo de justiça do processo.
Audiência de instrução é a sessão na qual são produzidas grande parte das provas orais do processo. São ouvidas as partes (réus e acusação) e suas respectivas testemunhas.
Outras 21 testemunhas, entre peritos e bombeiros, serão ouvidas por carta precatória, depoimento colhido pela Justiça no município de domicílio da pessoa. Segundo o Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES), outras datas serão agendadas posteriormente.
A primeira audiência deve ter a presença de Georgeval Alves Gonçalves, 36 anos, pai de Joaquim, de 3 anos e padrasto de Kauã, de 6 e Juliana Salles, mãe das crianças mortas no dia 21 de abril.
RETROSPECTIVA DO CASO
No dia 21 de abril, Joaquim e Kauã estavam em casa com Georgerval. Juliana estava em viagem para um congresso religioso em outra cidade.
Naquela madrugada, um incêndio atingiu o quarto onde os irmãos dormiam. O Corpo de Bombeiros foi acionado e as chamas foram controladas, mas os irmãos já estavam sem vida. Na hora das chamas, as crianças eram monitoradas por uma babá eletrônica.
Após o incêndio, os corpos carbonizados dos irmãos foram encaminhados para o Departamento Médico Legal (DML), em Vitória, onde foi necessária a realização de exames de DNA para identificação.
Depois que o fogo foi controlado, a casa, localizada na Avenida Augusto Calmon, no Centro de Linhares, foi isolada pelos bombeiros e pela Polícia Militar. A perícia técnica da Polícia Civil foi acionada e uma equipe do Corpo de Bombeiros fez uma inspeção para saber a causa do incêndio.
Na segunda-feira seguinte ao incêndio, o pastor George e a esposa, Juliana Salles, mãe das crianças, estiveram no DML para o recolhimento de material para realizar os exames de DNA. Na ocasião, George relatou para a imprensa o que teria acontecido na noite do incêndio.
George afirmou que sofreu queimaduras nos pés e nas mãos durante uma tentativa de salvar as crianças. Apesar disso, o médico perito que examinou o pastor teria encontrado pequenas bolhas nas mãos e nos pés do pastor.
No mesmo dia, Rainy Butkovsky, pai do menino mais velho, também esteve no DML e teve materiais genéticos colhidos. Muito abalado, ele disse que apesar de morar em Vitória e o filho em Linhares, eles eram próximos e o pastor cuidava dele como filho também.
Na primeira semana após a morte, a Polícia Civil ouviu o pastor e outras quatro testemunhas sobre o caso, sendo duas mulheres que moram na casa, mas não estariam no momento do incêndio. Também foram ouvidas duas pessoas que teriam ajudado o pastor George Alves no momento do incêndio.
Enquanto depoimentos eram prestados na delegacia, a casa onde aconteceu o incêndio e a morte dos irmãos passava por várias perícias. Na terceira delas, os peritos utilizaram um produto chamado “luminol”, que permite encontrar manchas invisíveis a olho nu. O recurso é capaz de detectar marcas de sangue e outros vestígios, mesmo depois de um incêndio e de o local ter sido limpo.
Uma semana após a morte das crianças, o pastor George teve a prisão decretada. De acordo com informações passadas por um investigador da Superintendência da Polícia Regional Norte (SPRN), o juiz expediu uma liminar com base no resultado dos exames de perícia e o pastor foi encaminhado para a 16ª Delegacia Regional de Linhares. Na ocasião, a Polícia Civil informou, por meio de nota, que a prisão de Georgeval Alves Gonçalves foi requerida para preservar o bom andamento das investigações. Ele foi colocado em uma cela isolada do Centro de Detenção Provisória de Viana.
No mesmo dia da prisão, a perícia realizada na casa encontrou vestígios de material biológico. A confirmação partiu do presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Espírito Santo (Sindipol), Jorge Emilio Leal, que informou que o material ainda demanda exame laboratorial.
Foi então que diversos detalhes da vida de George Alves começaram a aparecer. Antes de ser líder de uma igreja Batista de Linhares, o pastor era responsável por administrar um salão de beleza em São Paulo. Em publicações mais antigas nas redes sociais, o pastor mostra alguns dos trabalhos feitos. Alguns, inclusive, com a atual esposa, Juliana Salles, mãe dos meninos Joaquim e Kauã.
Dando continuidade às investigações, os médicos legistas do DML de Vitória retiraram amostras de urina, sangue e de órgãos vitais dos irmãos Joaquim e Kauan. O material foi enviado para análise e os exames podem apontar se eles foram dopados ou agredidos antes de serem carbonizados.
Após 11 dias do caso, foi realizada a perícia na casa, quando foi coletado material genético dentro do quarto onde os dois irmãos morreram. A coleta desse material é necessária para esclarecer etapa por etapa o que aconteceu antes e durante o incêndio na casa.
Foi neste mesmo dia que um grupo formado por cinco advogados de Minas Gerais e do Espírito Santo se voluntariou para defender o pastor George Alves. Na ocasião, Rodrigo Duarte, um dos advogados, que também é pastor e vice-presidente da Igreja Batista Ministério Vida e Paz, onde George ministra cultos, disse à reportagem da Rede Vitória que ainda não tinha tido acesso ao inquérito policial sobre o caso.
No dia 3 de maio, 12 dias após a morte, a pastora Juliana Salles, mãe dos irmãos prestou depoimento na 16ª Delegacia Regional de Linhares, por cerca de quatro horas. Por volta de 11h40, ela deixou a delegacia em uma viatura descaracterizada, sem falar com a imprensa.
O mesmo material utilizado em uma das perícias realizadas na casa onde ocorreu o incêndio também foi aplicado no carro que era utilizado pelo pastor George. O veículo foi submetido à uma nova etapa da perícia da Polícia Civil. O uso do luminol pode permitir a identificação de vestígios, como marcas de sangue.
Na o dia 4 de maio, peritos e militares do Corpo de Bombeiros se reuniram com o delegado responsável pelo caso dos irmãos. Também participaram da reunião o chefe do DML de Vitória, Vanderson Lugão, e o comandante do Corpo de Bombeiros de Linhares, Tenente Coronel Ferrari. O assunto da reunião não foi divulgado.
Na semana seguinte, uma nova pista que pode ajudar na investigação começou a aparecer. Um prontuário médico do pastor George Alves, realizado por um hospital de Linhares (HGL) horas depois do incêndio que teria provocado a morte dos irmãos não relata nenhuma tipo de queimadura. O documento foi divulgado pelo jornal online Norte Notícias e confirmado pela Prefeitura de Linhares ao jornal online Folha Vitória.
Depois do incêndio, o pai de Joaquim e padrasto de Kauã teria procurado atendimento no hospital por volta das 6 horas. As informações contidas na ficha de atendimento constam abalo emocional, mas não queimaduras.
Na ficha está escrito que, no hospital, o pastor relatou o que tinha acontecido, que estava em choque e que tinha inalado fumaça. A ficha revela que não foram feitos exames e o pastor foi liberado. Já os exames feitos na investigação policial apontaram uma pequena bolha em um dos pés.
O laudo dos exames de DNA nos corpos dos irmãos foi concluído no dia 07 de maio. De acordo com a Polícia Civil, os corpos foram identificados e já estão à disposição da família. No entanto, o caso segue sob segredo de Justiça, com acompanhamento do Ministério Público do Espírito Santo (MPES).
Por ocasião do sepultamento dos corpos, um especialista chegou a afirmar o pastor George teria o direito de deixar a prisão para acompanhar a cerimônia. No entanto, ele não foi liberado e não participou do enterro das crianças, que aconteceu em Linhares.
Na declaração de óbito das crianças, a causa da morte foi apontada como indeterminada. De acordo com médicos especialistas neste tipo de ocorrência, apontar a causa de morte como indeterminada é comum e acontece na maioria das vezes quando a pessoa tem o corpo carbonizados. O fato ocorre porque há dificuldade do trabalho de necropsia para os médicos legistas identificarem a causa da morte.
No dia 17 de maio, a Polícia Civil confirmou que trabalhava com a linha de investigação de homicídio na morte dos irmãos. A informação foi confirmada pelo delegado da 16ª Delegacia Regional de Linhares André Costa, que pediu prorrogação de 30 dias na prisão temporária de George Alves, pai e padrasto das crianças.
Dando continuidade às investigações, Rainy Butkovsky, de 31 anos, pai de Kauã, de 6 anos, foi chamado para depor na manhã do dia 21, na Delegacia de Crimes Contra a Vida (DCCV) da Serra. Ele ficou por cerca de 30 minutos prestando depoimento. Por volta de 12h05, Rainy saiu da delegacia e não quis falar com a imprensa.
Um mês após a morte dos irmãos Joaquim e Kauã, populares se reuniram na em frente à residência onde, no dia 21 de abril, os irmãos morreram. O encontro foi marcado por integrantes de grupos das redes sociais, como WhatsApp e Facebook.
No dia 23 de maio, a informação é de que foi prorrogada por mais 30 dias a prisão temporária do pastor George Alves, pai de Joaquim e padrasto de Kauã, mortos em Linhares.