Uma associação criminosa suspeita de furtar caminhões e revender as peças desses veículos foi desmontada, durante uma operação da Polícia Civil. Ao todo, 11 pessoas foram presas e 18 caminhões recuperados. Além disso, foram apreendidas cinco armas. Segundo a polícia, a quadrilha atuava nas regiões serrana e norte do estado.
Um dos caminhões foi recuperado dentro de uma aldeia indígena em Aracruz, no norte capixaba. De acordo com a Polícia Civil, um casal de índios alugava parte do terreno para a organização criminosa.
Segundo o titular da DP de João Neiva, delegado Leandro Sperandio, os dois indígenas recebiam mensalmente uma renda, além de um valor a parte por cada caminhão desmanchado na região.
“Nós fizemos uma intervenção e conseguimos prender um casal, que alugou um terreno dentro da área indígena, para que essa quadrilha pudesse usar para realizar os desmanches nos caminhões, tentando passar despercebido das forças policiais”, ressaltou.
Além da aldeia, os criminosos, segundo as investigações, utilizavam uma área urbana para realizar o desmanche dos caminhões. “Eles utilizavam essas áreas porque elas eram afastadas e eles conseguiam fazer isso de maneira mais tranquila, longe dos olhos das pessoas”, frisou o titular da Superintendência de Polícia Regional Norte (SPRN), delegado João Francisco.
Ainda de acordo com a PCES, dentro do grupo os criminosos tinham suas funções bem definidas. “Era uma organização bem estruturada. Tinha a parte que furtava, a parte que desmanchava e a parte que receptava para vender essas peças que eram desmanchadas”, explicou João Francisco.
“O perfil daqueles que cometiam os furtos, que iam até o local e levavam o caminhão, eram usuários de drogas, e que tinham muita habilidade para acionar e ligar os caminhões. O perfil de quem trabalhava nas áreas de desmanche eram mecânicos, que trabalhavam em oficinas de menor vulto, em casa, no fundo de quintal, mas que têm uma habilidade muito grande de fazer esse tipo de serviço. Eles conseguem cortar as peças do caminhão, de maneira que conseguem um bom aproveitamento daquelas peças de maior valor. E aí eles se valiam de outras pessoas, de pessoas que arrendavam imóveis, que cobravam fretes para carregar as peças, se valiam de um caminhão Munck, para poder ter essa logística, de algumas peças que são mais pesadas”, completou Sperandio.
Furtos
De acordo com as investigações, os criminosos tinham preferência por furtar caminhões-baú. Os crimes eram cometidos durante a madrugada, quando os caminhoneiros paravam para descansar.
“Geralmente saíam três ou quatro membros dessa quadrilha, iam para o interior do estado, às margens das rodovias estaduais e federais, em lugares usados pelos caminhoneiros para pernoitar, e, aproveitando do silêncio noturno, eles adentravam nesses caminhões, de uma forma muito rápida, furtavam e, no retorno ao local de origem deles, que é Praia Grande e Nova Almeida, eles tinham a habilidade também de encontrar mecanismos de segurança que, por ventura, os caminhões possuíssem. Eles desacionavam esse mecanismo, paravam os caminhões em locais ermos e deixavam 24 horas ou 48 horas esses caminhões ‘esfriando’, na gíria do crime, quando esse caminhão fica aguardando o período de maior intensidade de busca. Passado esse período, eles eram levados ao local de desmanche e, no mesmo dia, eram desmanchados. As peças eram colocadas em um caminhão legal, em situação regular, e eram levados a alguns comércios de ferro-velho, boa parte no sul da Bahia”, explicou Sperandio.
O delegado de João Neiva disse ainda que algumas cargas transportadas pelos caminhões também chegaram a ser revendidas, mas que não eram o foco da quadrilha. “A carga era aproveitada. Como eram furtados caminhões-baú, não dava tempo de, na hora do furto, saber qual tinha carga e qual não tinha. Mas as cargas que, por ventura, estavam dentro desses caminhões que foram furtados foram revendidas para alguns comerciantes locais. Tivemos carga de pneus, carga de piso, de pia, de material de construção”, citou.
Investigações
A segunda fase da Operação Carga Pesada aconteceu na última semana e, segundo a Polícia Civil, 24 inquéritos de furtos de caminhões foram concluídos. A polícia deu início às investigações de furtos de caminhões há cerca de um ano. Os primeiros registros ocorreram na região serrana do estado.
“A operação teve duas etapas: a primeira etapa foi na região serrana, Domingos Martins e Venda Nova do Imigrante, com os delegados da região, que fizeram uma grande operação e prenderam várias pessoas. Quando eles identificaram que havia uma ramificação no litoral norte, em Aracruz e João Neiva, eles passaram para os delegados locais, que desenvolveram essa operação e tiveram sucesso”, destacou o delegado-geral da PCES, José Darcy Arruda.
As investigações apontam ainda que micro empresários de Nova Almeida, na Serra, e Praia Grande, em Fundão, estavam por trás do esquema. “Tudo era organizado por dois indivíduos, que são microempresários e que tinham capital para fazer essa quadrilha girar. Eles pagavam as funções que cada um exercia, compravam os caminhões, e eles tinham contato para revenda dessas peças”, ressaltou Leandro Sperandio.
Agora a polícia está atrás de sete criminosos que ainda estão foragidos, entre eles o homem apontado como cabeça da organização criminosa. “Durante a última etapa da operação, foram presos cinco indivíduos. As investigações vão continuar, no sentido de prendermos esses indivíduos e também apurarmos outros crimes conexos, que foram identificados durante essa segunda etapa das investigações”, frisou João Francisco.
“Nós estamos trabalhando todos os dias, porque nós temos um compromisso com a população de bem, com esses caminhoneiros, de conseguir prender todos os que estão foragidos ainda. Nós não vamos cessar nossos trabalhos enquanto os sete que restam não forem presos. Inclusive esse líder, que fomentava esse furto comprando os caminhões daquelas equipes que furtavam e contratava parte da equipe para que realizasse um desmanche”, frisou Sperandio.
Extorsão
Ainda segundo a polícia, nas últimas semanas, quando mais caminhões foram recuperados, os criminosos passaram a ligar para extorquir algumas vítimas, pedindo dinheiro para devolver o veículo. Um caminhoneiro chegou a pagar uma quantia aos criminosos. Os valores pedidos pelos bandidos giravam em torno de R$ 2 mil e R$ 3 mil.
“Imagina alguém que perdeu um patrimônio muito grande. Isso produz uma sensação, uma vontade muito grande de fazer aquele pagamento para um criminoso”, disse o titular do Departamento Especializado de Investigações Criminais (Deic) de Aracruz, delegado Rodrigo Peçanha.
Na tentativa de fugir das prisões, os suspeitos começaram a agir no estado de Minas Gerais, de acordo com a polícia. “Eles começaram a se dirigir mais para o lado de Minas. Inclusive, dois deles foram presos em Minas, agora no final, antes de a gente desencadear a segunda etapa da operação”, frisou Peçanha.
O delegado chefe da Polícia Civil do Estado afirmou que, com essa operação, os casos de furtos de caminhões foram praticamente zerados no Espírito Santo. “Foi uma operação importantíssima, realizada pela Polícia Civil, com o apoio também de outras agências policiais. Nós tínhamos, em média, dois furtos e roubos de caminhões por dia. Há aproximadamente um ano os delegados vêm investigando e, recentemente, o delegado do Deic, juntamente com o delegado de João Neiva, numa operação fantástica, de três meses, conseguiu desbaratar essa organização criminosa, e os índices de furto e roubo de veículos acabaram. Eram dois por dia e agora acabou”, destacou Darcy Arruda.
Com informações do repórter Waslley Leite, da TV Vitória/Record TV/ Fotos PCES