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VÍDEO – Os efeitos dos fogos de artifício em crianças autistas

Imagem - Internet

Considerado um dos rituais mais tradicionais desta festividade, assim como beber uma garrafa de espumante ou usar roupas brancas, os fogos com seus efeitos visuais e sonoros marcam, na chegada da meia noite do dia 1º de janeiro, o fim de um ciclo e o início do outro.

Porém nos últimos anos tem crescido o número de vídeos e apelos de mães e cuidadores de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) para que os fogos de artifício sejam eliminados das comemorações na noite da virada do ano, ou ao menos que se usem fogos com ruídos mais baixos.

Tudo porque é comum encontrar crianças (e também adultos) com TEA que sofrem crises por conta do barulho excessivo dos rojões e foguetes utilizados para celebrar a chegada do novo ano.

O problema acontece, pois muitos indivíduos com TEA apresentam uma hipersensibilidade sensorial aos estímulos do ambiente. O fator é, inclusive, um dos critérios levados em conta na hora de fechar o diagnóstico. Um latido de cachorro ou uma buzina de caminhão, por exemplo, podem ser suficientes para causar pânico em crianças dentro desse espectro.

É como se eles escutassem todos os sons do ambiente de uma só vez sem focar a atenção em nenhum deles, provocando uma sobrecarga naquele sentido. “É algo que foge ao controle deles”, explica a neuropsicóloga Deborah Moss, mestre em psicologia do desenvolvimento pela USP (Universidade de São Paulo).

A hipersensibilidade sensorial pode ainda acometer outros sentidos. No caso do tato, a criança pode ter medo de texturas e evitar andar descalço na grama ou usar meias, por exemplo. Quando atinge o paladar, pode fazer com que o indivíduo coma apenas alimentos pastosos, ou só secos. No campo visual, luzes intensas também podem provocar essa sobrecarga sensorial, que acaba causando desconforto e até comportamentos agressivos nos autistas.

De acordo com Marcos Escobar, neuropediatra no Hospital das Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), isso acontece porque indivíduos com a condição tem dificuldade em entender o contexto das situações, impedindo que ela consiga modular seu comportamento. “Ela não consegue prever o que vem depois e isso a assusta, faz com que ela fique frustrada e se desorganize”, explica.

“Desorganizar” é a palavra mais usada para descrever uma crise pois é exatamente isso o que acontece: o indivíduo sente-se sobrecarregado pelos estímulos que recebe e, como não consegue entender o contexto da situação, acaba tendo dificuldade para organizar sua percepção e modular sua reação a eles.

No caso dos fogos de artifício durante a virada do ano, indivíduos neurotípicos (isto é, que não estão dentro do espectro autista) compreendem que eles serão disparados porque é uma tradição social para celebrar a data. “Mas, se acordássemos às três da manhã de um dia comum com uma bateria de fogos imensa na nossa janela, ficaríamos confusos com aquilo, questionaríamos se são fogos ou tiros, sentiríamos irritação e até medo”, explica o médico.

Terapias ajudam, mas não resolvem.

De acordo com Escobar, quadros mais leves de TEA acabam tendo uma cognição social mais desenvolvida, permitindo que esses indivíduos se adaptem melhor à hipersensibilidade. Quando o grau é mais grave, no entanto, a contextualização das situações é muito difícil. Uma das formas de amenizar o problema é trabalhar com terapeutas ocupacionais para que o paciente seja dessensibilizado dos estímulos que deixam a criança desorganizada. Os pais também podem ajudar na contextualização, explicando que aquele som é esperado e que irá acabar depois de alguns minutos. Moss lembra ainda que, durante a crise, é importante que os pais ou cuidadores realizem um trabalho de contenção da criança para evitar que ela se machuque ou machuque outros. Vale também tentar criar um ambiente controlado, mais silencioso e com menos pessoas, em que a criança se sente segura, para passar pelo período.

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A especialista lembra, no entanto, que as terapias podem ajudar, mas não resolvem a questão. “Não existe um aprendizado, um treino sobre como lidar com a situação”, afirma. “Isso é uma característica daquele indivíduo e é mais fácil nós nos adaptarmos à realidade deles”, explica.

Os dois especialistas concordam que, nesse momento, é importante tentar se colocar no lugar do autista para compreender quão difícil é vivenciar aquele momento. “Não é birra ou falta de vontade. As terapias ajudam, mas nunca vão modificar a hipersensibilidade sensorial desses indivíduos”, afirma Escobar.

Fonte – Danielle Sanches, do Viva Bem./ Imagem: Internet

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