Diante da confirmação na noite deste sábado (14) do primeiro caso de transmissão local de coronavírus, o secretário de Saúde do Espírito Santo, o médico Nésio Fernandes, informou que o Estado pode entrar já nos próximos dias na fase de adoção de medidas mais “enérgicas e hercúleas” no combate à pandemia.
O pico dos registros no Espírito Santo, que já tem quatro pacientes com a doença, é esperado para abril ou maio, mas, se a propagação for muito acelerada, as ações mais rígidas podem ser adotadas já em uma semana. Seja qual for o cenário, o alerta do chefe da pasta da Saúde é: a população capixaba deve preparar desde já as ferramentas para a mudança da rotina.
“As medidas que seriam adotadas pelo Estado consistiriam no cancelamento de aulas, estímulo ao teletrabalho [trabalho a distância], mudança nos expedientes dos profissionais, de acordo com segmento, para evitar que todo mundo pegue ônibus no mesmo horário, e estímulo ao cancelamento de eventos e reuniões que exigem grandes mobilizações. Aí, já nessa etapa, haveria uma recomendação mais explícita para esses tipos de situação. Como se estivéssemos numa ‘sala do meio’. Estávamos no sinal verde, passamos para o laranja e podemos chegar ao sinal vermelho daqui a pouco”, disse o secretário, em entrevista concedida por telefone ao Folha Vitória logo após a divulgação do novo boletim do covid-19 neste sábado.
O primeiro registro de transmissão local (ocorrido em território capixaba) do coronavírus é o de um morador de Linhares, no Norte do Espírito Santo. Ele é cunhado do homem que veio da Inglaterra e que foi diagnosticado com a doença enquanto visitava parentes em Vila Velha. Esse paciente deixou o município e foi para São Paulo, apesar da determinação para que ficasse em isolamento. Foi localizado e está isolado num hotel na capital paulista.
“Com a confirmação da transmissão local, passamos a definir quais são os territórios que entram na nova fase, que no caso são os municípios de Vitória, Vila Velha, Viana, Cariacica, Serra e Linhares, exigindo um cuidado redobrado desses municípios para a vigilância e a busca da relação com os casos que possam ter vínculo com os casos notificados. Porque, a partir do momento em que começam a surgir casos em que não é possível identificar de quem se pegou a doença, aí já passaria para uma etapa de transmissão comunitária, em que poderíamos tomar medidas mais enérgicas, hercúleas, porque não se teria mais a capacidade de controle da transmissão.”
Veja os principais pontos da entrevista
Zona de alerta
“O que caracteriza a transmissão local é a infecção de um paciente que foi infectado a partir de um caso importado. Se fosse um município isolado, se não fosse contínuo a outros municípios, iríamos declarar a transmissão local somente no município [Vila Velha, no caso do homem que veio da Inglaterra]. No entanto, como o evento ocorreu na região metropolitana, em zonas urbanas contínuas, decidimos, com o Ministério da Saúde, reconhecer toda a região metropolitana como uma área de transmissão local, assim como o município de Linhares, onde reside um outro paciente confirmado com coronavírus.
Nós temos confirmados quatro casos, sendo que um paciente migrou para São Paulo. Temos três casos em solo capixaba, sendo dois importados do exterior e um com contágio em solo capixaba, em transmissão local. É preciso destacar que não há nenhum caso grave. Todos os casos estão recebendo tratamento ordinário para um estado gripal, como hidratação e medicação para febre.”
Monitoramento das famílias
“As famílias estão sendo monitoradas. Os municípios onde residem os pacientes entram em contato diariamente, monitoram se os familiares estão ou não apresentados sintomas respiratórios. A partir desse momento que apresentam sintomas respiratórios e febre, eles passam a ser notificados como casos suspeitos. Já tivemos contato com a mãe do indivíduo [de Linhares], com os outros familiares. Os que passaram a ter sintomas respiratórios passaram a ser avaliados. Foram avaliados aproximadamente 12 indivíduos. Os que já foram notificados já foram investigados. Quatro estão sendo monitorados e estamos tentando identificar outros contatos sintomáticos.”
O pico da doença
“Temos a previsão de em abril ou maio apresentarmos um pico muito grande de coronavírus no Estado. Aí essas medidas enérgicas poderão ser tomadas. Ou [podem ser tomadas] na próxima semana, depende do comportamento. O fato é que o Estado está garantindo a oferta de leitos gradual e necessária para este momento. Se neste exato momento chegar um paciente em estado grave, ele tem a garantia de um leito de isolamento no Hospital Jayme Santos Neves [Serra]. Nenhum paciente foi registrado em estado grave. Todos estão em isolamento domiciliar.”
“Decisão tem de ser serena”
“As medidas mais enérgicas das autoridades públicas devem ser reservadas para a etapa futura. Hoje, a medida de cancelamento das aulas não teria efeito, porque essas pessoas não estariam sendo protegidas contra algo que não está circulando entre elas. E essas aulas perdidas teriam de ser repostas, além das aulas que seriam perdidas numa possível transmissão comunitária. Então, a decisão tem de ser muito serena, muito responsável. É preciso uma atitude equilibrada por parte das prefeituras e do Estado, para não antecipar as medidas que devem ser oportunas e tomadas no tempo certo.
A precipitação e a demora trazem igualmente danos para a saúde pública. Entendemos que a posição que tomamos de declarar cada fase somente quando ela estiver em evidência é a mais segura. E de fato, nos próximos 20 dias, essa situação pode mudar, e podemos cancelar grandes eventos, estimular o teletrabalho. O que é importante é que as pessoas preparem neste momento as condições para que, quando for necessário, lancem mão desses instrumentos.”
Fonte – Folha Vitória