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Relatório do MP revela o sofrimento vivido pelos irmãos Joaquim e Kauã antes de serem mortos

Uma história de horror e sofrimento, é o que revela o documento apresentado pelo Ministério Público do Espírito Santo (MP/ES) sobre as mortes dos irmãos Kauã Sales Butkovsky e Joaquim Alves Sales, abusados sexualmente, agredidos e carbonizados em Linhares em abril de 2018. Na visão do Ministério Público, o motivo torpe que levou as crianças a serem brutalmente assassinadas foi o desejo do pastor Georgeval, pai de Joaquim e padrasto de Kauã, de buscar visibilidade para sua igreja e arrecadar mais dinheiro.

O relatório com mais de 50 páginas estava sob segredo de Justiça, mas foi divulgado agora e relata uma história macabra, de muito sofrimento e privações sofridas pelos dois meninos. O conteúdo do documento está na apelação feita pelo Ministério Público contra a não aceitação por parte da Justiça das acusações contra a pastora Juliana Sales, apontada pelo MP como coautora no duplo homicídio.

O Ministério Público afirma que Juliana Sales tinha conhecimento das agressões que os filhos sofriam e nada fez para salvar suas vidas. Além disso, as provas obtidas através de análises de mensagens trocadas pelo casal via WhatsApp, mostram uma mulher negligente, submissa e conivente com as práticas abomináveis do ex pastor.

Comportamento perverso

Dias antes da morte de Kauã e Joaquim, o casal Juliana Sales e Georgeval teria discutido por causa do comportamento perverso do então pastor, que sempre se desculpava pela falta de caráter e era perdoado pela mulher. Em outros diálogos, Juliana reclama da indiferença com que Georgeval tratava o filho e o enteado e se queixou até da falta de comida e remédio em casa.

Numa das conversas, ela enviou fotos mostrando a geladeira vazia ao marido. Juliana também se queixava da forma como o marido trata os familiares dela. Em outra conversa, a pastora Juliana envia fotos de um dos filhos com marcas pelo corpo e pergunta ao marido o que aquilo significava. Georgeval mais uma vez pediu desculpas por ter se excedido.

Kauã diz à mãe que foi abusado

No documento do Ministério Público há uma conversa entre Juliana e o filho Kauã, de seis anos, na qual teria dito que uns homens teriam feito maldade com ele na piscina. Na escola o menino também tinha crises de choro, mas quando questionado sobre os motivos, dizia que não podia falar. Mesmo sabendo de todo o sofrimento Kauã e Joaquim sofriam, de acordo com MP, Juliana Sales viajou para Teófilo Otoni, em Minas Gerais, na véspera da morte dos filhos.

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Comportamento após a morte das crianças

O documento do Ministério Público menciona as contradições do pastor Georgeval nos dias que se seguiram à investigação do caso. O ar de tranquilidade do casal levantou suspeitas. Funcionários de um hotel em que eles ficaram hospedados após o incêndio se surpreenderam com a aparente normalidade demonstrada por Juliana e Georgeval, que chegaram a dar risadas no café da manhã. O MP ainda revelou uma foto tirada pelo casal no elevador do hotel com o filho mais novo colo. Juliana e Georgeval fizeram “selfie” sorrindo. Eles também foram flagrados entrando calmamente numa lanchonete, onde conversaram com pessoas e fizeram um lanche no dia da morte de Kauã e Joaquim.

Mulher submissa

Nas conversas extraídas do aparelho celular de Juliana Sales, os promotores descobriram uma mulher submissa e que aceitava passivamente as respostas dadas pelo marido, mesmo sabendo dos atos que ele praticava contra seus filhos, afirma o Ministério Público.

Essa postura resignada fica ainda mais clara numa das conversas via aplicativo WhatsApp que Juliana teve com uma fiel da igreja e que estava tendo problemas no casamento, dizendo: “o seu papel é obedecer ao seu marido”.

O Ministério Público também argumenta que mesmo depois da morte dos dois filhos, Juliana Sales manteve-se ao lado de Georgeval, declarando confiar plenamente em sua inocência. “Ela jamais questionou o marido sobre o que aconteceu naquela noite”, diz o MP.

O Ministério Público alerta para o fato de que a decisão de inocentar Juliana Sales, poderá levar a libertação também de Georgeval, sob a alegação de que ele teria “surtado” no dia da morte de Kauã e Joaquim, sendo passível, portando, de cumprir medida alternativa de segurança pela suposta falta de consciência dos atos praticados. Por fim, o Ministério Público pede que Juliana Sales seja pronunciada por duplo homicídio e estupro de vulnerável.

Procuramos a defesa de Juliana Sales para falar sobre o recurso do MP, mas não houve resposta.

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