Na próxima segunda-feira (05/10), é comemorado o Dia Nacional da Micro e Pequena Empresa, que no Espírito Santo têm contribuído para impulsionar a economia. Com a pandemia, muitos profissionais perderam seus postos de trabalho e precisaram se reinventar para manter as contas em dia. A criatividade somada à necessidade de um novo ofício despertou o potencial de empreender em muita gente. A crise financeira foi intensificada com a pandemia do coronavírus, e somente esse ano mais de 48,5 mil projetos de pequenos negócios saíram da gaveta e se tornaram realidade.
É o caso da Nancy Ortega, sócia da Salerosa – tábuas e mesarias, que viu na pandemia uma oportunidade de apostar no sonho de empreender e investir na tábua de frios como presente. “Está sendo desafiador, interessante e estimulador. Com as pessoas evitando sair, fazendo mais sociais em casa, em família, com eventos intimistas, a tábua de frios tem sido de grande valor”, destaca a empresária.
O trabalho começou no final de julho, e em menos de uma semana, com a ideia estruturada e passando pelas orientações do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Espírito Santo (Sebrae/ES), Nancy e a sua parceira de negócios, Vanessa Rozindo, deram início ao trabalho de divulgação e produção das tábuas com foco no Dia dos Pais. “Nós tínhamos o capital inicial, uma data comemorativa chegando e vontade de fazer dar certo. Resolvemos entrar em contato com os fornecedores e nos jogamos no empreendedorismo”, relembra Vanessa.
“As empresas em 2020 estão surgindo em um novo cenário, onde quase todo o processo de venda acontece no meio digital e, aquelas que não nasceram digitais, têm adaptado seus serviços. Atualmente, 72% dos empreendimentos capixabas já fazem o uso das mídias digitais como canal de interação com o cliente e para venda. Por isso é tão importante os empreendedores se capacitarem para entender a nova dinâmica dos negócios e terem sucesso no empreendimento”, ressalta o superintendente do Sebrae/ES, Pedro Rigo.
Impactos da Pandemia
Com a crise provocada pela Covid-19, 77% dos pequenos negócios capixabas tiveram seu faturamento reduzido. Muitos negócios precisaram adaptar e até mudar os seus serviços ou produtos para se manter no mercado. É o caso da maquiadora Thais Alvim, que diante da queda no número de clientes decidiu apostar em um outro dom: o culinário.
“Eu sempre fiz palha italiana para arrecadar recursos em eventos da igreja e todo mundo sempre elogiava e questionava por que eu não vendia. Com a situação da pandemia, eu decidi fazer um teste para saber se teria saída. O resultado do ‘Oh! Que palha’ foi e continua sendo ótimo e eu consigo conciliar com as demandas de make que ainda estão baixas”, destaca a empreendedora.
Assim como a Thaís, a Morena Jofily também faz parte do grupo de 26% dos empresários capixabas que mudou a sua linha de produtos e serviços neste ano. Ela trabalhava com o empreendedorismo social, mas ao ver a queda no faturamento mensal com a suspensão das atividades socioculturais que realizava, deu início à produção de cachepots de sisal e crochê.
“É o momento de se reinventar, várias pessoas estão modificando seus ramos para poder se sustentar, sustentar suas famílias. E eu segui este caminho do artesanato com a criação da marca Maré, que está sendo muito bem aceita pelos clientes” destaca a artesã.
Economia
De acordo o Sebrae os empreendimentos capixabas que configuram Micro e Pequenas Empresas geraram mais 373 mil empregos, movimentando cerca de R$ 649,5 milhões em salários, se tornando responsável por mais de 50% dessa movimentação.
“O Sebrae tem uma preocupação muito grande com o empreendedorismo capixaba, uma vez que ele é um dos impulsionadores da economia do Estado. As Micro e Pequenas Empresas são responsáveis por quase 60% da geração de empregos em território capixaba. Nosso papel é fomentar o empreendedorismo e incentivar, por meio de consultorias, orientações, cursos, entre outras ações, os potenciais empreendedores e empreendedores ativos, além de melhorar o ambiente de negócios para quem deseja investir no Espírito Santo”, aponta Rigo.
A 7ª edição da Pesquisa de Impactos da Pandemia sobre os Pequenos Negócios também aponta que 41% das micro e pequenas empresas capixabas que possuíam trabalhadores contratados não realizou demissões e atua com uma média de três empregados. Outro dado interessante é o de endividamento, que apresentou melhora nas taxas. Atualmente, 64% dos pequenos negócios do Espírito Santo não possui dívida ou está com as contas em dia. No início da pandemia o percentual de empresários com dívidas em atraso era de 39% e esse número caiu para 36%.
Crédito
O número de empresários capixabas que tentou conseguir crédito durante a pandemia aumentou. Segundo a última pesquisa Sebrae/FGV, 57% dos entrevistados disseram ter tentado buscar crédito, o maior número desde quando a entrevista começou a ser realizada. Desses, 24% conseguiram o empréstimo, 18% estão aguardando resposta e 58% não conseguiram.
“Mesmo com toda a importância das Micro e Pequenas Empresas no cenário econômico nacional, os pequenos negócios tiveram muitas dificuldades de acessar os serviços financeiros. As linhas de crédito estavam disponíveis, mas não chegavam às empresas que precisam, poucas conseguiram empréstimos. Portanto, devemos ressaltar ainda mais a perseverança e a garra destes empreendedores que conseguiram e ainda estão buscando seu reposicionamento no mercado”, ressalta Rigo.
A dificuldade no acesso ao crédito se concentra em quatros fatores importantes: a ausência de garantias que são exigidas pelo sistema financeiro; a restrição cadastral da pessoa jurídica ou dos sócios; a falta de uma conta bancária ou da movimentação de uma conta pessoa jurídica por parte dos pequenos negócios no sistema financeiro, e a dificuldade na gestão financeira da empresa que dificulta a comprovação da liquidez do negócio.
“A soma desses fatores agravou a situação das Micro e Pequenas Empresas e favoreceu as Médias e Grandes Empresas, que geralmente têm controle de caixa apurado e já possuem lastro com o sistema financeiro, o que facilitou o acesso ao crédito dessas empresas diferentemente do pequeno negócio”, destaca a gerente de acesso ao crédito do Sebrae/ES, Alline Zanoni.
Entre as orientações do Sebrae às MPE’s está o início do relacionamento com o sistema financeiro pela empresa logo na sua abertura, e para o empresário que já está na ativa, a atenção especial à gestão financeira do negócio. “É importante que o pequeno negócio inicie a sua jornada empresarial com uma conta da empresa aberta e em movimentação e realizar o controle de fluxo de caixa do negócio, manter a documentação em dia e tomar cuidado com o endividamento para garantir um processo de financiamento bem sucedido”, ressalta Alline.