De janeiro a junho de 2023, 763 menores foram apreendidos por envolvimento com o tráfico de drogas no Espírito Santo. O número representa 51% das mesmas apreensões realizadas em todo o ano de 2022, quando 1.481 adolescentes foram apreendidos pelo mesmo tipo de crime. Os dados são da Secretaria de Segurança Pública do Estado.
Ainda de acordo com as informações, este número representa uma média de 127 apreensões de adolescentes por mês. Ou seja, quatro adolescentes são apreendidos por envolvimento com o tráfico diariamente no Espírito Santo.
O delegado da Polícia Civil Leandro Sperandio explicou que há uma crise social que facilita a entrada de jovens e adolescentes para a criminalidade.
“Nós acreditamos que há uma crise de autoridade. Adolescentes que têm um problema de relacionamento com os pais, transferem isso com um problema de relacionamento para o com o professor e acabam transferindo isso também para as forças policiais”, disse o delegado.
Entradas no sistema socioeducativo
Nesse mesmo intervalo dos seis primeiros meses de 2023, o Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo (Iases), responsável pela internação dos menores infratores, registrou 520 entradas de adolescentes no sistema socioeducativo.
Ou seja, nem todos os adolescentes que foram apreendidos pela polícia de janeiro a junho foram internados. Inicialmente, eles são encaminhados para o Centro Integrado de Atendimento Socioeducativo (Ciase), onde fazem os primeiros procedimentos antes de serem enviados à Unidade de Internação Provisória (Unip).
A maioria dos adolescentes apreendidos, quando são encaminhados para internação, chegam ao Ciase (57,7%). Depois, a unidade Unip/Linhares recebe 23,8% dos menores, seguido da Unip/Cachoeiro (11%).
Outros dados deste primeiro semestre mostram que 58,3% dos adolescentes infratores têm apenas o ensino fundamental II como nível de escolaridade. Já entre as idades dos infratores levados à internação, a maioria tem 17 anos (34%), seguido de 16 anos (23,3%) e 15 anos (15%).
Casos reincidentes
De acordo com a Polícia Civil, cinco adolescentes já foram apreendidos em João Neiva, no Norte do Espírito Santo, por envolvimento com o tráfico de drogas nos seis primeiros meses do ano.
Um dos casos aconteceu no dia 4 de junho, quando a polícia apreendeu pela terceira vez uma adolescente de 16 anos, investigada por ato infracional análogo ao crime de tráfico de drogas, no bairro Monte Líbano.
De acordo com o delegado da Polícia Civil, Leandro Sperandio, durante a operação foram apreendidos 103 buchas de maconha e 29 pinos de cocaína no quarto da adolescente.
“Nós acreditamos que ela precisa sofrer uma punição, não só, mas todos os adolescentes que, de forma reiterada, têm cometido esse delito”, disse.
No caso da adolescente, a menor infratora foi encaminhada ao plantão da Delegacia Regional de Aracruz, onde assinou um Boletim de Ocorrência Circunstanciado (Boc) por ato infracional análogo ao crime de tráfico de drogas, e foi reintegrado à família, após o familiar assumir o compromisso de comparecer ao Ministério Público, quando solicitado.
Como mudar esta realidade?
Os jovens apreendidos precisam passar por medidas socioeducativas e, muitas vezes, passam por espaços que oferecem acesso à educação, cultura e lazer.
Em João Neiva, um destes locais é a Associação Amigos da Justiça Cidadania Educação e Arte, que oferece diversas oficinas como robótica, jiu-jitsu, grafite e futevôlei.
O assistente jurídico da associação, André Maltar, explicou que a equipe do projeto é formada por psicólogos, assistentes sociais e pedagogos.
“A gente tem o objetivo de trazer e ofertar para esses adolescentes, que, muitas vezes, estão em vulnerabilidade social e econômica, um alento, uma oferta de atividades para que eles também sejam contemplados e sigam um novo caminho. É um problema muito mais social do que criminal”, disse André.
Além das atividades oferecidas, os meninos e meninas aprendem uma profissão dentro do projeto. O professor Rafael D’Ávila disse que este aprendizado pode gerar renda aos adolescentes.
“A gente quer realocar eles na sociedade para que eles tenham renda para eles de volta. Hoje, a gente está focado nas aulas de estamparia com a renda. A gente tem clientes, que trazem até a instituição e, dessa forma, eles têm uma renda na venda de cada camisa deles”, disse Rafael.