Ícone do site Norte Notícia

Caçadores de sementes e plantas raras na Reserva Vale

Para manter o viveiro de mudas nativas e a busca contínua de novas espécies existentes na flora da Mata Atlântica, técnicos, biólogos, botânicos, entre outros pesquisadores da Reserva Natural Vale (RNV), trabalham na coleta de sementes e plantas em expedições feitas diariamente no meio da densa floresta que fica localizada em Linhares, no Norte do Estado.

Para coletar essas sementes, são utilizadas diversas técnicas, como o alpinismo, para escalar árvores de até 50 metros de altura, além de outros recursos, entre eles a participação de parabotânicos, também conhecidos por “mateiros – pessoas experientes e com profundo conhecimento sobre espécies de plantas, frutos e sementes – que auxiliam os estudiosos no encontro de espécies raras e até mesmo desconhecidas.

ANÚNCIO

De acordo com o biólogo, botânico e curador do herbário (coleção de plantas secas) da Reserva, Geovane Siqueira, entre as árvores que apresentam maior dificuldade de coleta de sementes estão espécies como o vinhático e a peroba, por serem altas e difíceis de alcançar a copa, e os Ipês, devido ao curto período da floração e frutificação.

Ele destaca ainda que, entre as normas da atividade, está a coleta máxima de 1/3 do total de sementes de uma árvore. Também é preciso resguardar as sementes para a própria regeneração da espécie, além de respeitar os animais que consomem e vivem dessa semente.

O escalador Manoel Cruz, que integra uma das equipes que buscam sementes no meio da floresta, afirma que, para conseguirem chegar ao alto das árvores, há um aprendizado teórico e prático. “É preciso o conhecimento do manejo de várias técnicas de alpinismo, como bicicleta sueca e o rapel, meios necessários para escalar as árvores com segurança”.

O parabotânico Domingos Antônio Folli atua na Reserva Vale há mais de 30 anos. Ele também faz parte das equipes de caçadores de sementes e plantas raras da RNV, sendo o pioneiro no Estado no trabalho de identificar a espécie pelo cheiro da casca, pelo colorido da semente ou pelo paladar da raiz.

Nos últimos 30 anos, cerca de 100 novas espécies de plantas foram descritas com base nas pesquisas apoiadas pela RNV. Tambem nos últimos 7 anos, 38 novas espécies de flora foram descritas a partir de material coletado na Reserva Vale.

As gigantes verdes da floresta

Entre as novas descobertas, ocorrida ainda em 2019, merece destaque a Dinizia jueirana-facao, primeira espécie do gênero Dinizia para a Mata Atlântica a ser oficialmente reconhecida pela Ciência. Esse dado torna a descoberta ainda mais relevante, já que, até então, esse gênero era encontrado somente na Floresta Amazônica.

Com mais cerca de 40 metros de altura (o que equivale a um edifício de 10 andares) e considerada criticamente ameaçada de extinção pela União Internacional pela Conservação da Natureza (IUNC), até o momento, a árvore só foi registrada em duas populações no Espírito Santo: uma na Reserva Natural Vale, numa área de 43 hectares e onde foram identificados 12 indivíduos adultos; e outra, numa área de aproximadamente 65 hectares, vizinha à RNV, localizada no município de Sooretama, onde também foram registrados em torno de 12 indivíduos adultos.

Descrito pela primeira vez há aproximadamente um século, o gênero Dinizia vinha sendo tratado como monoespecífico, ou seja, que compreendia uma única espécie, a Dinizia excelsa Ducke, vulgarmente conhecida como Angelim-vermelho, árvore que ocorre nas florestas amazônicas não alagadas da Guiana, do Suriname e de outros sete estados do Norte e do Centro-Oeste do Brasil.

“Essa descoberta deixa clara a grande lacuna de conhecimento que existe em relação à Mata Atlântica e à sua biodiversidade. Por isso, a importância de se preservar e conhecer de forma mais aprofundada os fragmentos florestais deste bioma que ainda existem”, alerta o biólogo Geovane Siqueira.

A descoberta da nova espécie de planta também contou com o apoio e experiência do parabotânico Domingos Antônio Folli. “Essa árvore está entre os indivíduos mais pesados do mundo, com mais de 60 toneladas, e essa pode ter sido uma das dificuldades do passado para ela não ter sido abatida”, comentou Folli.

Sair da versão mobile