Os advogados Milena Freire e Helbert Gonçalves, que fazem a defesa de Georgeval Alves e Juliana Sales, presos pela morte dos irmãos Kauã, de seis anos, e Joaquim, de três anos, afirmam acreditar na inocência dos dois. Eles afirmam que possuem provas para alegar essa inocência.
“O que as pessoas não entendem é que o inquérito está numa fase onde não há exercício de defesa. Não há o contraditório, não há a ampla defesa. É inquisitivo mesmo. Então, agora que a defesa vai começar a trabalhar. O que se tem são informações de um fato que agora vai ser apurado diante do contraditório, da ampla defesa, a veracidade das informações já apresentadas. Nós temos vários laudos para contestar, nós temos questionamentos técnicos para demonstrar a inocência de Georgeval e mais ainda de Juliana”, afirmou Milena Freire.
Os advogados relatam que Juliana alega inocência e continua acreditando na versão do marido, ou seja, que Georgeval não cometeu os crimes apontados pela polícia e pela Justiça contra os filhos. “Ela continua alegando inocência. Ela ainda acredita nas alegações do seu marido, e está completamente abalada sentindo dores físicas, porque ela amamenta e não está em contato com o filho. Obviamente o leite empedrou. Além de estar fisicamente ruim, ela está emocionalmente, como já estava e fazia tratamento psiquiátrico”, disse a advogada do casal.
Participação da mãe
No inquérito, a Polícia Civil havia descartado a participação de Juliana Sales nos assassinatos dos filhos. O envolvimento dela só veio à tona após o Ministério Público oferecer denúncia contra ela e Georgeval Alves. Os advogados alegam que houve distorção dos fatos. “O que nós estamos percebendo é uma distorção da comunicação que eles tiveram, uma distorção das alegações feitas pelo Georgeval em seus relatórios para fazer suas pregações. O que a gente está vendo é uma distorção dos fatos, e com isso entenderam que ela tinha conhecimento das agressões sofridas pelos filhos”, destacou Milena.
Segundo Helbert Gonçalves, o inquérito seguia de forma correta e ele alega que não havia omissão da parte dela. “O inquérito ele seguia um rito normal nos trâmites regulares e como de fato foi concluído ao final, que não havia participação ou indícios de Juliana em nada. Não havia omissão, muito menos conhecimento dela de que eventualmente o marido pudesse ter cometido o que está sendo acusado”.
Eles acreditam que ela não participou e que ele não matou. “O primeiro contato que eu tive com ela, ela alegou que se ela soubesse, sonhasse, pensasse que qualquer coisa poderia ser feita contra os filhos, acima de tudo ela é mãe e eu acredito nessa fala dela”, disse Milena.
Prisão em Minas Gerais
Juliana teria ficado surpresa com a prisão e não tinha condições no momento de comentar sobre o que estava acontecendo. A mãe dos meninos foi até Teófilo Otoni, em Minas Gerais, segundo a defesa, para fazer um tratamento. “Ela não conseguiu falar. Ela tremia tanto que a musculatura dela tremia involuntariamente. Ela estava fazendo tratamento médico [em Minas Gerais], tanto ela quanto o filho, porque em Linhares ela não podia sair na rua. Ela estava sendo ameaçada constantemente”, relatou Milena.
Após a prisão dela, a defesa informou que trabalha para que ela seja liberada. “Nós precisamos dos documentos acostados aos autos, após relatório final, que relatou inclusive que Juliana não tinha envolvimento com o delito, então nós precisamos desse documento para fundamentar o nosso pedido [de habeas corpus]”.
Mesmo assim, o advogado Helbert Gonçalves disse que ela está sendo bem tratada onde está detida. “A gente não tem conhecimento até o momento que haja qualquer incidente contra ela e ela está sim em uma cela separada”, apontou.
George na prisão
Os advogados contaram que ainda não falaram com Georgeval sobre a prisão de Juliana, mas acreditam que ele já esteja sabendo. “Nosso último contato com ele foi anterior à prisão de Juliana. Nós ainda não sabemos como que ele reagiu a essa informação. Acreditamos que ele esteja mais desestabilizado do que ele já estava anteriormente. Acreditamos que ele saiba, porque dentro das cadeias têm televisão e isso está sendo noticiado, veiculado o tempo todo”, contou a advogada.
De acordo com Helbert, o pai de Joaquim e padrasto de Kauã está separado dos outros presos e possui um tratamento diferente. “Ele se encontra em uma cela separada, mas também em um setor separado. Ele está aparentemente tranquilo, em partes. Não está misturado com outros presos e tem um tratamento diferenciado”.
Eles revelam ainda que entraram com pedido de habeas corpus para ele, mas o recurso foi negado. “Já foi feito, antes da prorrogação da prisão temporária, foi indeferida a liminar e ainda não foi julgado o mérito”, explicou Milena.
Ascensão religiosa
Segundo a denúncia do Ministério Público, Georgeval e Juliana planejavam ascensão religiosa com a morte dos filhos. Os advogados rebatem a acusação. “Nós recebemos essa informação com muita surpresa e como a doutora havia dito aqui, a gente tem percebido que está havendo, de fato, uma distorção do que realmente eles faziam enquanto líderes religiosos. Nós encontramos fatores e informações que aparentemente tenha havido uma perseguição contra a fé deles, aquilo que eles acreditam. Nós encontramos um país onde a religião é um direito, temos o direito de exercer a nossa fé, seja ela qual for. A gente percebe que há uma certa perseguição nesse sentido e isso tem se mostrado de uma forma mais clara na medida que umas ações são tomadas por alguns órgãos. A gente tem tentado combater isso e nós vamos trabalhar em cima disso”, apontou o advogado.
Lanche após o incêndio
Um fato que também gerou polêmica foi a ida do casal a um restaurante 24 horas depois da morte dos filhos. Sobre isso, os advogados disseram que eles não tinham alternativa, porque não podiam entrar na casa onde o crime ocorreu.
“Eu acredito que a fé deles de que os filhos estão com Deus sobrepõem qualquer coisa. Eles são líderes de igreja. Eu entendo que eles tenham demonstrado uma força maior do que de fato eles tinham, principalmente a Juliana, pois as fotos acostadas aos autos deixam muito claro os olhos sempre inchados. Agora, comer fora, ela não tinha mais casa. Ela não tinha opção. E realmente Georgeval é uma presença firme e que conduz a situação. Ele tinha uma força e uma firmeza que direcionaram Juliana, pois se não existisse ele e o filho para apoiá-la, ela teria sucumbido”, explicou Milena.
Mensagem
Sobre a troca de mensagens onde Juliana teria dito: ‘não estou preparada para dar errado’, a advogada deu a versão da defesa. “Ela começou a perceber que alguma coisa estava errada. Começaram a ouví-lo e ele foi ouvido por muito tempo dentro da delegacia e ela percebeu que ele estava agindo de uma forma que não deveria. Ele teria que ter resguardado o luto, como ela também deveria. Só que ele não se permitiu ao luto, por ser líder e não permitiu que ela tivesse um luto. Essa é a percepção da defesa. “Não aconteceu um crime. Aconteceu um acidente que vitimou duas crianças e uma família inteira que está sofrendo as consequências desse acidente”.
Fonte – folhavitoria